Por Kelvin Rodrigues, Equipe de Voluntários de Desenvolvimento Outubro 2023
Como proteger os mais pobres das mudanças climáticas?
Minhas considerações ao trabalhar com o projeto Juventude em Ação na Zâmbia e estudar o Relatório do PNUD 2021 sobre a situação global da pobreza.
As alterações climáticas são inevitáveis, pois o clima na Terra já não é o mesmo e tem dado indicações de que é apenas o começo e que o futuro será extremo no que diz respeito à variação de temperaturas, chuvas e secas extremas.
A terra está doente, os sintomas estão por toda parte. Os responsáveis por medidas incisivas para reduzir a extração de recursos naturais e a emissão de resíduos no solo, na atmosfera e nos oceanos, não parecem ter a mesma seriedade ao discutir meios alternativos e sustentáveis.
Acompanhamos em outra COP como os líderes mundiais se reuniram para tratar das Mudanças Climáticas. Mas os vimos sair depois da semana principal, que visava defender o futuro do planeta como vemos hoje, da mesma forma que entraram.
A ideia de levar a COP para o Oriente Médio – com o pensamento de conscientizar os principais produtores de combustíveis fósseis do mundo de que precisamos reduzir a dependência desse modelo energético, flexibilizá-lo e criar alternativas para energia sustentável, diversificando a matriz energética e reduzindo a dependência do petróleo, gás natural e carvão - não tiveram efeito.
A Arábia Saudita, país-sede da COP 28 junto com o Irã, são grandes produtores de petróleo no mundo e seguem firmes na defesa do consumo de combustíveis fósseis.
O Brasil, que possui a maior floresta tropical do planeta, apontada como o pulmão do mundo por muitos cientistas e ativistas ambientais, discute em suas principais agendas políticas a exploração de petróleo na foz do Amazonas.
E o mais recente de tudo, partindo de um país que foi exemplo em diretrizes sustentáveis e investidor em programas de proteção ambiental, temos a Noruega, que no dia 24 de janeiro declarou a polêmica decisão de permitir a exploração de minerais no fundo do mar, abrindo assim a discussão desse tema por outros países.
Outro ponto importante é que, à medida que mais reservas de recursos naturais são descobertas, instabilidades políticas são criadas. Como exemplo temos a descoberta na Guiana de outra reserva de petróleo que causou um despertar em sua vizinha, a Venezuela, e reacendeu uma discussão de décadas passadas sobre a anexação de parte do país, o território de Essequibo.
Que a geopolítica está fervendo não é novidade para ninguém. Os países precisam de energia para se desenvolverem e se protegerem de possíveis guerras que não têm inimigos claros. E a maneira mais eficaz de obter energia ainda é através da exploração extrema do planeta.
O grande problema é que não conseguimos mais manter os níveis de extração e o modelo de consumo descontrolado. Os recursos naturais como água, solo e ar estão cada vez mais poluídos, improdutivos e escassos.
E mesmo com tanto desenvolvimento, tantos avanços, dados positivos do PIB e projeções de crescimento, ainda temos 1,3 bilhão de seres humanos que vivem na pobreza e não têm meios adequados para manter suas vidas. Vivem sem saneamento básico, energia elétrica, água encanada e segurança alimentar.
O relatório também aponta que 600 milhões de pessoas caminham pelo menos 30 minutos para obter água potável.
Recentemente, me deparei com uma cena, que despertou uma certa inquietação. Recebi o desafio de explicar para pessoas que não têm acesso a energia elétrica, água, gás de cozinha encanado, coleta de lixo ou saneamento básico e vivem com menos de R$ 1 por dia, sobre os impactos das mudanças climáticas. Então me veio uma pergunta, enquanto eu considerava a situação dessas pessoas que nunca desfrutaram de um desenvolvimento mundial tão concentrado, que também querem as vantagens de ter um país desenvolvido, que vivem em extrema pobreza por causa de ações de poucos - enquanto o planeta está esquentando:
Como explicar aos mais pobres, que o calor será mais forte do que já é, que as chuvas chegarão de surpresas e que dependendo da intensidade colocarão as cidades debaixo d'água, que os períodos de seca serão frequentes e que precisarão andar cada vez mais tempo para conseguir água, que terão que pagar mais por seus alimentos básicos, porque a produção de alimentos em escala mundial será afetada, encarecendo os produtos.
No começo fiquei sem respostas, pois essas perguntas me causavam angústia.
Na análise fria dos dados, não havia esperança.
Foi então que outra pergunta, mais poderosa que as outras, veio à mente:
Nós – líderes, ativistas e sociedade civil – devemos lutar ao lado dos esquecidos e excluídos, em busca de soluções que mitiguem os impactos causados pelas mudanças climáticas.
Uma tarefa um tanto difícil, pois muitas pessoas têm dúvidas sobre isso e até brigam sobre isso.
Quando pesquisei sobre o assunto, só observei ações que proporcionam ideia e investimentos de longo prazo. No entanto, os responsáveis por esses investimentos são pouco dedicados em respostas a esse tema.
- Como vamos esperar esses investimentos que não são suficientes.
- O que fazemos até lá?
Bilhões de pessoas estão em risco iminente e não podem esperar...
Conscientização e educação:
O primeiro passo é a conscientização. Precisamos informar as pessoas sobre o que está acontecendo, de forma clara, prática e eficiente. Para informar de forma simples, sem palavras ou textos complexos que impossibilitem a compreensão, precisamos explicar, por exemplo, o impacto do descarte inadequado de resíduos e o quão prejudicial ele é ao meio ambiente.
Reaproveitamento de residuos:
Explore ideias de reaproveitamento de resíduos que podem ser coletados e transformados em soluções para a comunidade, como vassouras de garrafa pet e sacolas ecológicas. Criar e fortalecer cooperativas que coletam e descartam corretamente os resíduos, estudam formas de viabilizar iniciativas de resíduos que contribuam para a geração de renda.
Produção local de alimentos:
Fortalecer a agricultura local, fornecendo recursos e incentivos para que os moradores locais produzam seus próprios alimentos, nutritivos e livres de agrotóxicos e que vendam
o excedente para outras localidades ou para o governo usar na produção de lanches para escolas a um preço competitivo.
Garantir que a escola forneça aos alunos os recursos necessários para o desenvolvimento decente e que ofereça todas as refeições de forma saudável.
Pontos de serviço e resposta a emergências:
Configure pontos de serviço dentro das comunidades para obter informações e suporte que possam medir e mitigar os riscos locais, apoiar as famílias e garantir que elas possam ter tempo de resposta para se proteger quando eventos extremos forem detectados.
Criar canais de comunicação para aumentar a cobertura de informações. As pessoas precisam saber o que está acontecendo. E as mídias comuns, como TVs e rádios, não chegam a todos.
Para apoiar as pessoas em situação de pobreza precisamos de ideias simples e pessoas engajadas e comprometidas, pensando nos problemas reais com criatividade e compromisso de colaborar para um mundo menos desigual e faminto.
Nada pode ser criado e desenvolvido quando as necessidades básicas para a manutenção da vida não são atendidas, e a fome, a sede e as doenças ainda são assassinas silenciosas.