Olá!
Meu nome é Tomas Cunha, tenho 25 anos e sou de Portugal. Atualmente sou responsável pelo jardim do CICD.
Conte um pouco sobre você e por que decidiu fazer parte do CICD.
Cheguei a este colégio há quase 9 meses, logo depois de terminar meu mestrado em Biologia Evolutiva em Lisboa. Após vários anos de estudos, eu sabia que queria experimentar algo diferente da minha realidade até então. Alguma coisa que me afastastasse um pouco do curso de ações que eu estava tomando. Eu precisava aprender mais sobre o mundo e também sobre mim mesmo e sobre o que eu quero. Eu vivi uma vida bastante privilegiada e, por isso, tentei conciliar esta fase de busca por autoconhecimento com a posibilidade de colocar minhas energias em algo que não é apenas sobre mim. Assim, entrei para a Equipe de Ativismo Climático 2020 do CICD, com o objetivo de viver em comunidade, trabalhar em mim mesmo e ajudar os outros a fazerem o mesmo e, finalmente, ir para a Índia.
Explique sua situação agora, depois de terminar sua bolsa de estudos Gaia.
Consegui arrecadar todo o dinheiro que precisava para o meu projeto trabalhando no programa de bolsas de estudos Gaia e minha equipe estava pronta para partir, mas, no final, tivemos que esperar. Devido à pandemia que está sendo sentida pelo mundo inteiro, os planos de ir para a Índia em junho tiveram que ser adiados. Eu tive que enfrentar a inevitável incerteza que tantos estão passando por esses tempos. A previsão agora é que meu período de estudos comece em novembro e que eu vá para a Índia em janeiro de 2021. Mas o que fazer nesse meio tempo?
Por que você disse "sim" à sugestão de cuidar do jardim durante o verão?
Fui convidado a permanecer no CICD como o novo responsável do jardim até o início do meu programa. Assumir essa responsabilidade foi uma motivação para mim: tive a honra de herdar o jardim deixado em um ótimo estado pelo responsável anterior, Vasile; tive a oportunidade de aprender um novo conjunto de habilidades, pois nunca havia trabalhado com agricultura antes; e, especialmente, eu pude aproveitar o tempo até que meu programa se inicie em algo produtivo, literal e figuramente falando. Literalmente por produzir alimentos orgânicos para a escola e figurativamente por ser uma nova experiencia para mim e, portanto, uma chance de crescer e aprender algo que considero muito útil para o meu futuro.
Conte como você se preparou para assumir esse desafio.
Tive a oportunidade de passar um tempo com o Vasile e aprender muito com ele (você pode fazer um pouco do mesmo aqui - https://cicd-volunteerinafrica.org/blog/why-gardening-because-in-exchange-of-your-work-you-get-food).
Sou muito grato por isso, já que ele é muito perspicaz, com muito conhecimento prático sobre agricultura orgânica e também uma pessoa que eu respeito. Concentrei-me em entender o que precisaria de mais atenção, como gerenciar as tarefas em andamento e organizar meu tempo e prioridades. Além, claro, de aprendizados mais técnicos sobre plantas específicas, solo, rega e cuidados com os animais.
O que tem sido divertido e interessante, e o que tem sido difícil?
Esse tipo de trabalho é muito gratificante para mim pessoalmente. Sinto que posso conciliar trabalho duro com criatividade quando estou cuidando do jardim com minhas próprias mãos, deixando minha mente em um estado de plenitude. Além disso, acredito que assumir responsabilidades tem um grande papel em se sentir realizado e esse jardim é uma responsabilidade muito saudável de aceitar. E, finalmente, acabo todos os dias sentindo que aprendi alguma coisa nova. Mais uma vez ... gratificante.
A parte mais difícil está sendo encontrar tempo para fazer tudo o que me propus a fazer. Sou perfeccionista, para o bem e para o mal, e quando há muito trabalho, luto para fazer tudo como imaginava.
Qual será o maior desafio para você no jardim?
Será o meu maior desafio para para este verão. Gerenciar o tempo que tenho e continuar sendo produtivo. Equilibrar o que eu quero fazer com o que eu posso gerenciar, sem deixar de ser eficaz.
Dê alguns exemplos do que você aprendeu até agora.
Como eu disse, agricultura é algo que nunca fiz antes, então todo meu trabalho no jardim é um novo aprendizado. Eu acho que há uma certa beleza nisso. Tudo o que faço é aprender constantemente e dependo de tudo que aprendo para manter o jardim vivo e funcionando.
… e algum exemplo de algo realmente interessante!
Algo realmente interessante foi experenciar todo o processo, da semente ao meu prato. Achei muito gratificante plantar alguns vegetais, regá-los, vê-los crescer, garantir que estavam saudáveis, colher no momento certo, cozinhar da maneira escolhida (usando também as ervas frescas do jardim!) e finalmente comê-los compartilhando com os demais.
"Fazer" sua própria comida é algo profundamente recompensador e algo que as pessoas se desconectaram nos tempos modernos. Os tempos atuais mostraram que essa desconexão pode ser muito prejudicial. Tanto diretamente, pois as pessoas enfrentaram a possibilidade de ficar sem comida nas áreas urbanas; e indiretamente, como esse modo de vida contemporâneo acaba sendo muito prejudicial para nossa saúde e do planeta. Esse efeito indireto se torna cada vez mais claro crise após crise.
Se você se encontra em um lugar onde vê todos esses padrões errados em torno de seu modo de vida; onde você se sente infeliz ou mesmo deprimido pelo desequilíbrio das prioridades nas sociedades modernas; onde você entende os vícios que estão levando a mudanças climáticas catastróficas; onde você sente que deseja fazer algo a respeito ... então uma horta orgânica torna-se algo a ser almejado. Uma pequena parte de uma grande solução.
E esse pensamento é uma boa maneira de concluir minha explicação sobre o que significa para mim trabalhar neste jardim.