Estou exatamente a meio do meu projeto em Moçambique e posso dizer que até este momento já viajei por 9 das 11 províncias deste enorme país.
Devido ao facto de estar constantemente a mudar de lugar e a viver em diferentes condições não me foi possível sentar em frente a um computador e escrever sobre o que por cá tem acontecido.
O meu projeto é um pouco diferente dos outros. Eu estou a trabalhar com a ADPP HQ em Moçambique e mudo de um projeto para o outro conforme as necessidades dos mesmos. O nosso trabalho como D.I's consiste em monitorizar os projetos, elaborar relatórios sobre o que foi feito e é preciso fazer, reorganizar as atividades propostas pelos doadores, planear as linhas orientadoras para o trimestre/semestre, preparar e treinar inquéritos de base e ajudar em tudo o que for necessário. Até este momento tenho trabalhado no projeto Farmers Club, mas já visitei muitos outros, como o TTC, Cidade das Crianças, Escolas Profissionais, Esperança, TCE, roupas em segunda mão, portanto sei o trabalho que tem sido realizado aqui em Moçambique, tanto as coisas boas alcançadas como os problemas a ultrapassar.
Após a visita e recolha de informação nos diferentes projetos em Maputo e arredores, o meu trio e a Beatriz ( no seu período de investigação) viajamos para Cabo Delgado ( a cerca de 2600 Km de Maputo). Finalmente, após 4 dias de viagem em diferentes "Machimbombos", chegamos a Bilibiza.
Bilibiza é um lugar muito bonito, cheio de macacos, leões, crocodilos e elefantes. Infelizmente apenas vimos os macacos que passavam várias vezes em frente à nossa porta e ouvimos um elefante a invadir os campos agrícolas no dia da nossa partida.
Não nos foi possível integrar no projeto como desejávamos. Deixavam-nos de fora das reuniões e os nossos planos eram constantemente alterados devido a problemas de transporte ou a outras coisas que aconteciam. De qualquer das formas, fizemos o nosso melhor. Agora temos mais experiência e também sabemos que nos podíamos ter organizado melhor, fazendo outras atividades no nosso tempo livre ou quando os planos eram alterados.
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Sugestões para os D.I's que vão trabalhar no FC Cabo Delgado: trabalhem em conjunto com os “exentionists”. Eles sabem muito sobre agricultura e podem-te ensinar (mesmo que tu não saibas nada). Para uma experiência mais rica, podes viver por alguns períodos noutras províncias aonde eles trabalham e ir aos clubs todos os dias. Se ficares em Bilibiza podes preparar aulas ou clubs com os estudantes da EPF. Eles precisam de professores de Inglês e Informática.
Após este período em Bilibiza, eu e a Rosilma viajamos para Maringue - Farmers Club Sofala. Durante os 4 dias de viagem tivemos a oportunidade de passar um na praia de Pemba, visitamos Nampula e comemos boa comida Portuguesa - aonde acabei por contrair Malaria e Gorongosa. Com tudo isto acabei por dormir em tudo que era lugar sempre que tinha a oportunidade.
Viajar é sempre uma experiência exaustiva e perigosa mas, ao mesmo tempo, hilariante e interessante. Dizes pelo menos uma vez por hora "Oh meus Deus" e há sempre um pneu furado durante o caminho.
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Maringue - se disseres a algum Moçambicano ou estrangeiro que saiba a história de Moçambique que estás em Maringue, a sua reação é sempre a mesma "Uau, tu vives em Maringue?!". Eles ficam deveras chocados e preocupados com a ideia de estares a viver num campo de batalha aonde há pessoas a morrerem diariamente devido aos conflitos pelo Renamo. Como muitos nunca estiveram lá e ouviram apenas dizer, falam de Maringue como se de um sitio sem água (é pouca mas há), sem eletricidade (verdade, apenas existe quando alguma pessoa importante do governo lá vai)e perigoso se tratasse, aonde as pessoas são constantemente atacadas por rebeldes.
Bem, eu posso dizer que gostei muito de Maringue, louca Maringue. O Renamo passa o dia sentado, a beber para que os seus dias de desempregado passem mais rápido. As pessoas são simpáticas, é seguro andar pelas ruas a qualquer hora, não somos enganados nos preços e há comida boa (incluindo ratos).
Nós estamos sempre a par do projeto e cientes do que vai acontecendo. O projeto FC Sofala, que já existe há um ano e meio, sofreu vários problemas de administração e liderança. Neste momento não existe a Division Commander e administração foi mudada. O nosso trabalho é ajudar a organiza-lo melhor. Para mim é um grande desafio trabalhar no meio de todos estes problemas, pois a cada dia que passa, e quanto mais nos envolvemos, mais problemas aparecem para serem resolvidos. Assim sendo, o que é necessário fazer é tentar deixar a maioria das coisas por trás e começar a reorganizar e implementar todas as atividades que estão atrasadas. Fizemos um "Catch Up Plan" e agora é hora de implementa-lo com honestidade, trabalho duro e provar que FC Sofala pode ser um projeto credível e funcional. O FC Sofala envolve 3250 famílias e é a maior FC em Moçambique. Há sempre coisas a acontecer, como pequenas ações pedidas pelos doadores, e precisa de uma boa liderança para a acompanhar e conduzir os 13 líderes de projeto (agora são apenas 10, o que torna a situação ainda mais difícil).
Acordamos a pensar e a falar sobre Maringue, durante o dia tentamos encontrar soluções e à noite sonhamos com trabalho, dizeres de Maringue, sementes e alimentação.
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A melhor parte é que nós trabalhamos em conjunto com a administração, estamos envolvidos em todas as reuniões e somos parte ativa na procura de soluções. Desta vez não estamos a trabalhar para as supostas 3 semanas que iríamos cá ficar, mas concentradas no trabalho pois vamos ficar o semestre todo.
Na semana passada, viajei para Maputo para ir buscar algumas coisas que vou precisar, já que só volto a Maputo no final do projeto. Acabei por ficar 5 dias a mais para ajudar a HQ a traduzir todos os relatórios dos projetos semestrais para Inglês e para enviá-los para HQ Zimbabwe. (suspiro) Quão bom foi tomar um banho com à pressão e quente!
Amanhã viajo novamente para Maringue e desta vez vamos viver num outro lugar chamado Gumbalançai. Este fica situado a 50 km de Maringue e agora a vida real no mato vai começar: sem água (para venda), sem comida, sem rede telefónica, sem eletricidade, sem internet, sem latrina, sem duche exterior, sem bicicleta como transporte para os clubes, e com porcos, cabras e vacas como vizinhos.
Eu posso afirmar que o Farmers Club é um projeto deveras interessante, ao contrário do que eu estava à espera. Se os D.I's querem trabalhar com as comunidades locais, ensinar diversas matérias e pôr em prática todas as Green Actions aprendidas, então este é o lugar! Mesmo que não saibas muito sobre agricultura, vais aprender e praticar, pois é muito diferente da Europa, onde temos uma grande quantidade de água para irrigação e diferentes tipos de solos. O Farmers Club está ligado à saúde e saneamento, educação, diversificação e propagação de legumes e outros alimentos e melhoria das condições de vida da comunidade.
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Com o sector comunitário HQ podemos ficar a conhecer diferentes culturas e tribos de Moçambique. É possível experimentar diferentes condições de vida, acompanhar diferentes projetos, observar como ADPP está a desenvolver o seu trabalho no país e estar envolvido em muitas coisas diferentes. O único contra do projeto é que se estiveres interessado em ficar com apenas uma comunidade durante os 6 meses para assim seres capaz de fazer uma mudança e deixar a tua impressão, é um pouco mais difícil porque nunca sabes quando e para onde vais mais tarde.
Por agora é tudo. Vou fazer as malas porque amanha tenho uma viagem longa pela frente (mais ou menos 1000 km) para me encontrar com a Rosilma em Maringue e irmos juntas para o mato! Nós passávamos a vida a gozar com a tenda que ela comprou (ela dorme lá dentro todas as noites), mas posso dizer que também tem sido muito útil para mim quando nós temos que dormir em alguns lugares estranhos. À dias ouvi dizer que ele ( o Tiago) teve de dormir ao relento numa pequena vila para visitar a construção de alguns poços com bombas de corda! Por isso, é também um bom conselho, vão aí ao Tesco e comprem uma barraca de camping pequena e leve!
Espero vos poder escrever em breve com mais notícias! Estamos a sobreviver e a desfrutar imenso de Moçambique!
